Ainda nos dias de hoje, e apesar de todos os esforços para colocarmos meninos e meninas em situação de igualdade social e educacional, observamos que meninas se sentem, no geral, desconfortáveis nas áreas de exatas. Desde a tenra idade, a partir de seus 6 a 7 anos de idade, as meninas já pensam que não são aptas à matemática, e posteriormente, no ensino médio, se mostram desmotivadas à Física e Química. No cotidiano, em experiências vividas em casa ou na escola, a ciência não parece ser feita a elas. Como consequência disso, temos uma cultura que exclui meninas de áreas relacionadas a exatas desde muito cedo, na fase de definições de gostos e preferências, na ausência da incitação à curiosidade científica e na falta de modelos femininos para cientistas.

 

Por outro lado, no mundo adulto e atual, algumas áreas do conhecimento continuam sendo relativamente impermeáveis à entrada das mulheres em seu campo de atuação. As áreas de Matemática, Engenharia, Computação, Física e Química estão entre as últimas fronteiras conquistadas pelas mulheres. Podemos dizer que os motivos que mantiveram as mulheres longe das mesmas – a crença de que mulheres carecem dos talentos necessários para bem desempenhar as tarefas exigidas nesses campos do conhecimento – estão sendo superados, ainda que lentamente. Entre outras coisas que merecem destaque está o fato de que as mulheres, se são poucas nas áreas exatas, são ainda em menor número nos cargos de chefia e atividades remuneradas de pesquisa. Mesmo as áreas de humanas, que possuem mais mulheres compondo o corpo docente de faculdades e universidades, têm um número desproporcionalmente pequeno de mulheres em cargos de chefia. Um dos cursos de ação em relação ao fato de que as mulheres continuam distantes da Matemática, Física ou Computação, será o de que o próprio tempo se encarregará de suprir essa deficiência. Entretanto, existem ações que podem otimizar a presença feminina nas Ciências Exatas e Tecnologias, e é importante que elas sejam implementadas, não apenas porque as restrições correntemente existentes ferem o direito das mulheres de escolher sua profissão, mas também porque a própria sociedade não pode prescindir dos talentos que estão sendo perdidos atualmente, por causa desses interditos.

 

Historicamente, no Brasil, o ensino feminino foi regulamentado apenas em 1827. A lei proibiu o ensino misto e limitou o ensino feminino ao primário (Bruschini; Amado,1988). Na grade curricular, enquanto meninos tinham acesso à geometria, as meninas tinham que aprender prendas domésticas (Oliveira, 2009). Apenas em 1879 a mulher ganhou o direito de cursar o ensino superior. A partir de então, registra-se o surgimento de matrículas femininas nos cursos de Direito e Medicina. A presença de mulheres nas áreas das Exatas ocorreu com mais de duas décadas de atraso se comparado às áreas da saúde e do Direito. Assim, podemos dizer que a quebra de barreiras histórico-culturais no Brasil é muito recente. Não há ainda cem anos que nos separem da primeira mulher formada em Engenharia, e nos espanta recordar que a primeira Física mulher, Yolande Monteaux, se graduou apenas em 1937; na década de 1940 mais duas mulheres se formaram em Física, Elisa Frota Pessoa e Sonja Ashauer, e a presença feminina ganhou algum ar significativo em números apenas na década de 1960. Essa participação tardia das mulheres em áreas de Ciências Exatas, principalmente experimentais, é explicada por diversas razões, uma delas sendo o caráter eminentemente internacional da formação. Não havia no Brasil, na época, cursos de doutorado ou grandes laboratórios de pesquisa que recebessem nossas estudantes e as mesmas eram impedidas por razões culturais a sair sozinhas do país para conquistar suas formações. Essa cronologia também explica os baixos números de mulheres como pesquisadoras em universidades cursos de Exatas atualmente, se comparados com números da área de Medicina, a última com duas décadas de vantagem com respeito ao ingresso da mulher no mercado de trabalho da área de saúde. No caso específico da Medicina, há que se considerar ainda que a mesma esteja associada ao “cuidado com o próximo”, característica associada ao gênero feminino, e portanto mais bem assimilada como profissão feminina.

 

Devemos enfatizar que na universidade, registra-se uma procura reduzida das mulheres pelos cursos de Ciências Exatas, por exemplo, Computação e Física no país e no mundo, talvez os cursos de maior impermeabilidade, e no Brasil, juntamente com os altos índices de evasão e retenção nas áreas de Exatas, o cenário é ainda mais prejudicado.

Mas antes de se discutir a participação feminina nas Ciências no país é preciso discutir a participação de brasileiros em geral nas Ciências. Segundo o INEP, em uma população de 1000 pessoas pouco mais de 150 possuem ensino superior (cerca de 15% apenas da população). Desse número apenas 22 vão para as áreas de Ciências e Tecnologia. Dado número tão pequeno, não é de surpreender que apenas 7 são mulheres indo para essas áreas. (entre 25 e 34 anos). O quadro oposto encontra-se na Coréia do Sul, onde quase 70% da população, nesta mesma faixa etária, ingressa para o Ensino Superior. E enquanto temos 7% apenas de formados nas áreas de exatas no Ensino Superior brasileiro, essa porcentagem é duplicada nos EUA. Ou seja, a baixa participação das mulheres nas carreiras científicas e tecnológicas decorre primeiramente pela baixa participação de nossos estudantes no Ensino Superior, e sofre um agravamento substancial com as questões de gênero subjacentes.

 

O afunilamento permanece, considerando o universo das mulheres que alcançaram a carreira científica quando se analisa a sua baixa representatividade. Embora elas preencham metade do quadro total de pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ainda são minoria na área das ciências exatas, com apenas 20% de pesquisadoras na Física, por exemplo, e 13% na Engenharia Elétrica. O levantamento indica também que quanto maior a posição hierárquica, menor o número de mulheres. De acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a participação das mulheres nas áreas de exatas mais do que dobrou de 2011 até 2016 no Brasil. Apesar do aumento, na área das Ciências Exatas e da Terra, nas engenharias e na computação, a participação feminina ainda não supera 30% das bolsas disponibilizadas pelo órgão.

 

Constata-se que o número pequeno de mulheres que se interessam e decidem seguir nas áreas de Ciências sofre o que chamamos “Efeito tesoura” [5]. Elas são “cortadas “ paulatinamente em época de formação (graduação, mestrado e doutorado) e ao longo da carreira. Compreender as causas para esses cortes com profundidade é essência para essa questão. Algumas delas são a falta de incentivo familiar, discriminação subliminar de colegas e corpo docente, a ideia de que a carreira de cientista é incompatível com as atribuições ditas femininas de maternidade e cuidados com a família, a crença inculcada de que ela não possui capacidade.

 

No Instituto de Física da UnB, como exemplo, os números progridem lentamente, e ainda de maneira insuficiente: em 2005 tínhamos 18% de mulheres no total de professores e as meninas somavam entre 10-15% do total de estudantes. Atualmente, após a política do REUNI, as novas contratações a partir de 2009 aumentaram para 16 o número de professoras num universo de 76 professores, ou seja, 21,05%. Dentre os 369 estudantes de graduação atualmente matriculados 74 são meninas, perfazendo um total de 20% (há que se considerar em posterior estudo que no curso noturno a presença feminina é de apenas 13,3% e no diurno aumenta significativamente para 24,65%). Há que se ressaltar que nossa turma de 1/2018 conta com a presença de 12 meninas em uma turma de 46 do bacharelado, ou seja temos 26% de ingressantes meninas. A estatística da licenciatura, por outro lado é também intrigante, com apenas 8,3% de participação feminina no ingresso (as meninas estão entrando na Física com mais expectativa na carreira de pesquisadoras e menos com a intenção de se tornarem professoras do ensino básico?). Ainda assim, o total das estudantes em ambos os cursos mostra significativa evolução numérica comparada à 2005. Porém, enquanto a participação aumenta no ingresso, permanece o cenário de diminuição delas ao longo da pós-graduação e fixação profissional.

 

A pesquisa vem com a perspectiva de estimular a participação feminina nas ciência exatas, em especial no curso de física. Propostas como está aqui apresentada são de vital importância para que futuras gerações de mulheres compreendam o que é a física e se estimulem pelo assunto, inclusive escolhendo a ciência como profissão.

 

O projeto tem um potencial de motivação para as ciências exatas, para a experimentação e para a formação docente. É importante nas séries iniciais para incentivá-las a descobrir como o mundo funciona por intermédio da experimentação e da aplicação do pensamento crítico. Assim, motivando-as a seguir a carreira científica.

 

A importância do projeto no contexto atual do sítio de aplicação se dá pelo seguintes itens: A cidade satélite do Paranoá apresenta um alto nível de gravidez na adolescência; É carente de oportunidades científicas; É considerada uma cidade muito violenta. Assim, este projeto foi proposto pensando como forma de ofertar oportunidades e garantir alguma participação das mulheres desta região na física. A ideia nasceu das experiências de infância de uma das integrantes da equipe, que na infância foi criada na comunidade do Paranoá, estudou no CEF 03 do Paranoá, enfrentou a violência, as dificuldades de gênero e a falta de oportunidades do local. E VENCEU! Atualmente é docente no IF/UnB. Encontra na sua história a possibilidade de motivar outras meninas.